Publicado por: Bernardo Annechino | 22/09/2010

Paguei pra ver: ‘Gero

‘Gero
Para ser notado, nem sempre é preciso chamar a atenção

Na mesma semana em que foi indicado pelo Prêmio Rioshow de Gastronomia como hours concours na categoria de restaurante italiano, o ‘Gero recebeu minha visita com a Patroa. E ao terminamos a refeição a pergunta foi a mesma: “Porque demoramos tanto tempo pra vir juntos aqui?” Isso mesmo, pasmem, mas essa era a primeira vez que a Patroa e eu entrávamos juntos nessa instituição da gastronomia carioca com a marca de qualidade do sempre esmerado Grupo Fasano. E depois de discordar da crítica especializada no meu último post sobre o Esplanada Grill (veja aqui), nada melhor do que fazer as pazes com meus ídolos humildemente concordando: o ‘Gero é o melhor italiano do Rio. E o faz com a marca de sofisticação característica das casas Fasano: sem exageros, mantendo tradições e preparo impecável.

Logo de cara a decoração confirma: paredes de tijolo aparente, mesas de toalhas brancas, cadeiras de palha trançada. Simplicidade e tradição que refletam a verdadeira elegância da casa, com poucas mesas e uma bela árvore decorando o salão de pé direito elevado e iluminação aconchegante. Nada de espalhafatos, rococós e que tais. O toque de charme fica por conta de fotografias de paisagens da cidade do Rio de Janeiro, delicadamente emolduradas, e em preto e branco, é claro. Parte do estilo Fasano de receber é o serviço. Preciso, como um relógio, suíço, claro, daqueles que funcionam pefeitamente sem chamar a atenção. É possível ser bem atendido sem que o atende se faça notado. Isso é uma arte para poucos. E quase sem notar em nossa mesa já chegavam interessantíssimos e simples chips de abobrinhas finíssimos, delicados, crocantes e salgadinhos. Na sequência, o delicioso couvert. Pães quentinhos e croncantes com manteiga saborosa e adocicada, ricota fresca temperada como a feita nas melhores casas de Nonna, pasta de tomate seco viciantes segundo a Patroa e azeite de sabor delicado e frutado. Para acompanhar nos ofereceram uma taça de prosecco. E que prosecco. Borbulhas pequenas que pareciam massagear o palato numa explosão de sabor delicado e suave. Perfeito para abrir o apetite.

Uma olhada no cardápio e todos os grandes clássicos italianos estavam ali. Massas frescas feitas na casa, ossobuco de vitela, costeleta a milanesa, pratos com frutos do mar, e, claro, pratos com trufas negras e foie gras. Mas antes de mergulhar nesse universo de sabores fortes, começamos a refeição com delicadas entradas. A primeira, uma salada de xicória rodeada de mini lulas e mini tomates regados com azeite aromático. A combinação do sabor delicado das lulas com um toque de refrescância da hortelã e o adocicado dos tomates foi perfeito. Pena que as primeiras lulas não tinham a melhor textura, e não vieram tenras como o esperado. Como segunda entrada, dividimos um fresquíssimo carpaccio de atum, com fetias de boa espessura e sabor maravilhosamente vivo. Pra quem acha que a carne de atum tem sabor forte, experimentem um atum de boa qualidade, sem cozimento e vocês perceberão a verdadeira sutileza do seu sabor mais puro.

A tentação por continuar nos frutos do mar foi grande, mas se tem uma coisa que mexe comigo é carne cozida com osso (para desespero da Patroa), especialmente um ossobuco com risotto de açafrão. Já a Patroa decidiu por um risotto de frutos do mar, com vieiras, camarões, cavaquinha e lula. Soava delicioso. Numa velocidade perfeita, nem rápido demais nem demorado demais chegou nosso pedido à mesa. A aparência e os aromas eram convidativos, e as porções se não eram de Nonna, eram acima da média de restaurantes mais sofisticados, mantendo a tradição italiana. E talvez esse tenha sido o ossobuco de cozimento mais perfeito que eu já experimentei. Nada de twists ou brincadeiras com a tradição. Apenas o preparo impecável, com a carne se desfazendo no garfo, de um prato símbolo da Itália. Junto ao rico molho, o sabor fresco das ervas completava perfeitamente a garfada. O risotto que acompanhava podia ser uma estrela por si só. Cremoso, untuoso e no ponto perfeito, recebia no topo um toque dos pistilos inteiros do açafrão. Nada de pó de ouro, ou torre de chamas. Só mesmo o ingrediente de altíssima qualidade na receita preparada à perfeição. O risotto da Patroa, a julgar pelo aspecto também estaria primoroso. E ela me confirmou depois: estava delicioso.

E como nenhuma refeição à italiana estaria completa sem um doce, foi aí que tivemos nossa maior surpresa. Despretensiosamente a Patroa escolheu um soufle de chocolate, ao que prontamente nosso atendente informou que demoraria 10 minutinhos pra ficar pronto. Bom sinal. A espera valeria… Matendo me linha tradicional, fui de profiteroles. Totalmente diferente daquela versão grosseira e massuda empapada com sorvete de baunilha genérico servida pronta em muitos restaurantes, essa versão vinha delicada, aerada, rechada com creme de mascarpone e avelãs, cobertas com lascas da mesma avelã e a medida certa de calda de chocolate. O sorvete de baunilha acompanha ao lado, pra não sobrepujar os verdadeiros sabores dessa versão verdadeira do doce. Uma sinfonia. Não podia ficar melhor. Estava enganado. Quando dei uma garfada na sobremesa da Patroa fui ao céu e voltei. A textura inexplicavelmente crocante por fora contrastava com a delicadesa do recheio cremoso, com sabor de chocolate intenso. Valeria esperar até uma hora por essa delícia.

Acho que aprendi minha lição. Quando algum dia discordar novamente dos verdadeiros profissionais da crítica especializada, basta optar na refeição seguinte por outro recomendação deles. Se o resultado for como esse, dou a mão à palmatória. Mas se discordar novamente, podem ter certeza que estará descrito aqui. Afinal, uma das melhores partes da refeição é debatê-la com alguém. E brindemos com um bom limoncello pra encerrar a conversa.

Trocando em Miúdos:
‘Gero
Onde: R. Anibal de Mendonça, 157 – Ipanema
Tipo: Italiana
Comida: :-D
Ambiente: :-D
Serviço: :-D
Conta: $$$$$


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